Apesar da grande quantidade de material escrito sobre isso, o comprimento da pedivela continua a ser um assunto polêmico e muito discutido.

Alguns dizem que as pedivelas mais curtas são melhores; outros dizem que as pedivelas mais longas são os melhores. Alguns definem “curta” como 170 mm, enquanto outros não a chamam de curta a menos que ela tenha 150 mm ou menos. Os campeonatos mundiais têm sido vencidos em todas as modalidades de ciclismo em uma grande variedade ou comprimento de pedivelas, quase independentemente da altura ou postura de uma pessoa.

Qual é a resposta certa?

Hoje gostaríamos de levar a discussão a um lugar que raramente parece ganhar alguma atenção, ainda que qualquer comprimento de pedivela que você escolha pedalar carregue implicações significantes.

Comprimento da Pedivela e Engrenagem

A maioria das pessoas não estão cientes que o comprimento da pedivela das sua bicicletas tem um efeito significante na sua alavancagem.

Você provavelmente lembra que o ciclista ProTour e arquirrival de Armstrong, Jan Ullrich, que pedalava com uma pedivela levemente mais longa em etapas de montanhas. A ideia era simples: você ganha mais vantagem mecânica com uma pedivela mais longa para uma certa engrenagem.

O problema que nós temos hoje é que muitos triatletas parecem esquecer desse “pequeno” detalhe  – que o comprimento da pedivela afeta a engrenagem. Pedivelas curtas fazem furor, e por muitas boas razões. Elas não são para todo mundo, mas a sua popularidade está crescendo de forma constante.

Se você não está familiarizado com Brown, ele é um dos mais importantes e respeitados homens na história das bicicletas. Vale a pena ler seus artigos. Ele faleceu tragicamente em 2008 – uma perda enorme para a comunidade do ciclismo.

Brown entendeu que os sistemas de cálculo existentes estavam deixando passar uma coisa muito importante. Essa coisa é o comprimento da pedivela. Devido a isto, ele decidiu por conta própria criar um novo sistema – uma nova unidade – para engrenagem, que considerou o comprimento da pedivela. É chamado de Gain Ratio.

Para citar Brown,

E o comprimento da engrenagem? Todos estes sistemas compartilham uma inadequação em comum: nenhum deles conta com o comprimento da engrenagem!

O fato é que uma Mountain Bike com 46/16 tem  a mesma engrenagem de uma bike de estrada com um 53/19 apenas se elas têm o mesmo comprimento de pedivela. Se a Mountain Bike tem 175 mm e a bike de estrada 170 mm, a engrenagem na Mountain Bike é na verdade 3% mais lenta!

Eu gostaria de propor um novo sistema, que conta com o comprimento da pedivela. Esse sistema é independente de unidades, sendo expressado como um puro ratio. Esse ratio seria calculado da seguinte forma:  dividir os raios da roda pelo comprimento da engrenagem; isso vai render um único raio ratio aplicável para todas as engrenagens de uma certa bicicleta. Os raios individuais das engrenagens são calculados como com engrenagem polegadas, usando esse ratio de raios ao invés do tamanho da roda.

Um exemplo:

Uma roda de bicicleta com engrenagem de 170 mm: (o diâmetro genérico usual para rodas de estrada é 680 mm, então o raio seria 340 mm.)

340 mm / 170 mm = 2,0. (O ratio do raio)

2,0 x 53 / 19 = 5,58

Esse número é um puro ratio; as unidades de cancelar. Eu chamo isso de “gain ratio”. O que isso quer dizer é que para toda polegada ou quilômetro que o pedal viaja na sua órbita em volta do movimento central, a bicicleta irá viajar 5,58 polegadas, ou quilômetros.

Exemplos Modernos

Para aqueles não empolgados por matemática ou cálculos, eu vou dar um exemplo. Vamos supor que ambas as suas bicicletas, de estrada e de triatlo têm pedivelas  de 170 mm, coroas de 53/39 e cassetes de 11-23. Você está considerando uma mudança para pedivelas curtos em uma bicicleta de triatlo e mantendo a mesma engrenagem.

O gráfico abaixo mostra a sua engrenagem para comprimentos de  170, 165 e 160 mm. Utilizando o cálculo de engrenagem de Brown, eu chego o mais próximo possível do patamar 170mm 53/39 manipulando o tamanho das coroas. NOTA: os números chave são a marcha mais alta e a marcha mais baixa. Você vê variações entre os três estabelecimentos, e isso é inevitável. Nós estamos focando na marcha mais alta e mais baixa que você quer para a sua  condição física.

Comprimentos de pedivelas

Como você pode ver, as pedivelas de 165 mm requerem coroas 52/38, e as pedivelas de 160 mm requerem 50/36. Se você quer enlouquecer e tentar  uma pedivela de 150 mm…

Comprimentos de pedivelas

Mas que…? uma combinação de coroa de 47/34? Alguém faz isso?

Aí reside parte do problema. Não há tamanhos de coras suficientes para acomodar todos os comprimentos de pedivelas. Algumas mudanças de comprimentos de pedivela exigem tamanhos de coroas estranhos, como dentes de tamanho 37,  40 e 41. Eles podem as vezes ser encontrados por meio de pequenos fabricantes, mas nenhum dos grandes fabricantes os produz. Adicionalmente, se você normalmente tem uma coroa pequena de 34 dentes na sua engrenagem de 170 mm, você simplesmente não irá encontrar muitas outras opções além dessa. Uma configuração de coroa tripla é a sua melhor opção, mas as opções de comprimento da pedivela são limitadas, já que as coroas triplas são consideradas “bregas” pelo ciclismo moderno. Eu digo: seja um brega e faça o que é melhor para você.

A outra opção que você tem a sua disposição é manipular o tamanho do seu cassete para acomodar a mudança de comprimento da pedivela. Começando mais uma vez do nosso padrão 170 mm 53/39, vamos ver quanto nós devemos mudar o cassete:

Comprimentos de pedivelas

O mais próximo que podemos chegar da nossa engrenagem original é a pedivela de 165 mm com um cassete 11-25, ou um 12-25 para uma pedivela de 160 mm. Não é perfeito; mudanças no tamanho do cassete têm um impacto maior na engrenagem.

Se você quer descobrir quais mudanças de corrente ou cassete podem ser necessárias para acomodar a mudança de comprimento da pedivela, eu indico você a usar o cálculo de engrenagem de Brown. Não vamos esquecer do tamanho da roda, o qual também tem um efeito significante na engrenagem (rodas menores precisam de coroas maiores para a engrenagem voltar ao “normal”).

E quanto ao ângulo do quadril e a potência?

Eu já ouvi os argumentos de algumas pessoas sugerindo que você deve manter o tamanho da coroa quando você trocar para uma pedivela mais curta, ou até que você deve considerar adquirir coroas maiores. Como nós vimos na discussão acima, isso parece ser o oposto do que queremos.

O raciocínio está ao longo dessa linha: optar por uma pedivela mais curta em uma bicicleta de triatlo abre o ângulo do quadril, o que pode resultar em melhor produção de potência. Portanto, você precisa de uma coroa maior.

Minha opinião? Sim e não. Eu argumento que se uma pessoa usar abraços de 170 mm em ambas bicicletas, de estrada ou de triatlo, ela está simplesmente removendo toda ou alguma força ao trocar por uma pedivela menor em uma bicicleta de triatlo. Talvez um braço 165 mm é suficiente para obter o seu limite funcional de energia em suas bicicletas de triatlo de volta para o nível que elas têm em suas bicicletas de estrada. Há obviamente muitas coisas que condizem com isso, então por favor veja o meu exemplo simplificado:

Pedivela curta

Meu ponto é que seria uma ocorrência rara que a escolha de uma pedivela curta em uma bicicleta de triatlo iria automaticamente “presentear” um atleta com muito mais potência do que ele teria antes. Trata-se de limitar as perdas, não magicamente ganhar alguma coisa extra. Trata-se de ter o ângulo do quadril de volta ao seu nível “normal”.

Se um ciclista usa a pedivela de 170 mm com coroa 53/39 em sua bicicleta de estrada, talvez faça sentido apenas ficar com o mesmo tamanho 53/39 para a sua bicicleta de triatlo (e pedivelas de 165 mm). Uma mudança de 5 mm no comprimento do braço não é muito, e o efeito sobre engrenagem é mínimo. A sua bicicleta de triatlo vai efetivamente ter a engrenagem um pouco mais alta, e isso não tem problema. Eu não recomendaria que arbitrariamente fosse colocada uma coroa 54/42 nessa bicicleta de triatlo – aumentando ainda mais a engrenagem – apenas por causa de um ganho recém descoberto em eficiência.